A mulher Fragmentada
A mulher fragmentada levantou os olhos e mirou um ser humano no bar. Não era a primeira vez que ia naquele bar. Não era a primeira vez que aqueles dois pares de olhos se fitavam. A mulher fragmentada, meses depois, vê que é fragmentada - como que incompleta, presa e solta, percebe que o "paradoxo" não passa de uma tremenda babaquice inventada 1) por um neurologista querendo lhe explicar o DDA com hiperatividade e 2) por milhões de outros teóricos que nasceram antes de ela pensar em existir.
Refere-se à existencia com algum pudor, pois tomou consciência de que por ser uma punhetóloga de ÚLTIMA CATEGORIA, a (pseudo) punhetologista cai em desgosto - para aqueles olhos que apareceram na primeira f(r)ase. Desejou não merecer.
Ele disse à ela que amanhã poderia acordar com olhos inchados - ela fingiu não dar bola. Ela tinha disso - parece que morria de vez em quando. Uma lama recaía dos cílios às pálpebras, deixando-a cega. Aquilo que a salvara outra hora, agora lhe causava o maior desconforto.
Se, num primeiro momento, a mulher fragmentada podia conter-se e expor-se a seu bel-prazer; agora o rebento de mulher sentia-se moça. Anciã. Delgada. Esguia. Baixa. E - por vezes - morna. A mulher fragmentada soube de seus sentimentos - soube controlá-los, soube cantá-los; no momento e medida certa. Agora lhe cabe o contrário. Mulher fragmentada não sabe se pode, deve, ou se lhe convém. Afinal, ela é um rebento de outra Era.
Não soube jamais controlar-se: sempre que soube de uma fresta, por onde escapava um feixe de luz, se essa luz a interessava - lá estava: mulher fragmentada buscando um novo rebento - caco - pedaço - enfim, para agregar a sua alma. De forma bastante humana - a mulher fragmentada sempre soube encantar os 'cacos'. Cantava-lhes assim como cantava a sua própria alma.
Se ergueu os olhos do moço que a mirava no outro lado do bar - não ouse me chamar de 'caco', não ouse me tratar como um 'caco'. Aquela mulher fragmentada juntou seus frangalhos estremecidos - tonteados e nocauteados - como uma trouxa de roupa suja, como uma peneira que não estava disposta a vazar de sí, para o chão.
Não sabe se pega suas trouxas e vai embora - pensa que seu feixe de luz não quer mais a ela - como ela está - esteve ou é. O feixe de luz ainda é uma incógnita - mas para esta mulher fragmentada.
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