sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

===
- Quero conhecer a metafísica!

- Te apresento a ela.

- Tu... Tu tem certeza?

- Peraí, eu já volto.


(...)

- Não sei onde ela foi.

- A Metafísica?

- Sim, ela mesmo. Em carne e osso.

- Tu ia me trazer algum livro de literatura-filosófica?

- Não. Ia te conduzir à tua alma.


===
- Salve!

- Amém.

===
- Alva.

- Branca Vicissitude.

- Saúde!

===
Da outra sala, ouve-se o tilintar de copos de vidro.


===
- Às vezes olho para o lado e pareço...

- Perece. Tu parece que não encontra as palavras, as elocuções. Tu elucubra soluções numa questão íntima e sincrônica de espaço-tempo. Tu não termina tuas frases e não encerra teu pensamento. Tu parafraseia qualquer escritor.

- Excretor. Tu perece quando me analisa e vê racionalidade por meios físicos.

- E aí tu te encontra com a metafísica.


===
Ouve-se uma tosse, vinda do corredor.


===
- Perdeste tua alma, Alva.

- Te acalma, João. Porque eu ainda sei concatenar meus pensamentos menos filosóficos e mais lúdicos.

Ouve-se um suspiro.

- Alma! Por onde andaste?

- Eu ouvi alguns ruídos vindos desta sala. Um burburinho me fez acordar de um sono lento.

- João estava a te procurar, mesmo.

- Alva teve medo de parecer...

- Perecer.

- Permanecer...

- Tancafiada.

===
- A Alma é assim. Uma hora ela se apresenta, outra hora tu já não a ve mais.

- Puxa, João. Nem deu tempo de conversar com a metafísica.

- Alva: Quando tu falou com a Alma, tu falou com a Metafísica.

- Sabe, João. Às vezes eu bem sei quem sou. Porque sofro. Mas Alma parece que não perece. Ela tem uma certa liberdade, é como um fino fio de linho que dança com o vento. Sou um novelo de lã que se enrosca na primeira corrente de ar, quando me vejo num redemoinho, percebo que estou em pleno mar.

- O Furacão é para poucos, Alva.

Nenhum comentário: