quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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- Sorrindo, aquela gracinha está sorrindo de novo.

Encostado no parapeito da janela, ela a observava todos os dias.

- Sorrindo! Ela está sorrindo!

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A garota tem um espanador na mão, mas apóia seu braço na parede, perto do aparelho de som, ao lado do espelho. Reparando em alguns cd´s desorganizados, depara-se com a foto: Sorri.

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- Não sei teu nome, não tenho teu telefone... Moro no 32° andar e só este ar nos separa.

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- Além de blocos de concreto! Quero ver-te sorrindo.

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- Ela está ao telefone. Com quem será?

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- Creio numa relação sólida, mas permeável.

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O rapaz abre uma lata de refrigerante, pega da pequena geladeira ao lado da cama; esta está coberta de livros e, escritos à mão, seus poemas.

- Ela sorri demasiado.

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Desliga o telefone, escora-se na parede. Seu corpo sucumbe, ao passo que desliza, no frio amparo. Mirando a fotografia, chora, copiosamente.

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No quarto, sobre a cama, Darlei escreve seus poemas.

"Uma fábula encontrar contigo, viver
Toque minha perna casar comigo, morrer
Sabes de quem preciso, você.

Fala do teu caminho
Vê meu pensamento
Num canto eu só e sozinho
Tu e eu"

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No bloco ao lado ela chora.

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No quarto do escritor - ele a ama. Mesmo que ela sorria demasiado.

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