segunda-feira, 8 de dezembro de 2003

CONHECIMENTO
Discernimento - ou falta de - em III atos

::: Prólogo:

Eu queria que agora tu estivesse ouvindo a mesma música que eu, que sentisse a falsa impressão de um bicho-da-seda comendo teu rim.

De perceber-se um prometeu.

Prometeu não é aquele que promete, ele é O prometido.

Um cara que diz que prefere a sua PRÓPRIA desgraça à servidão de outrem é, no mínimo, um baita pau-no-cú, barriga breve.

Eu odeio a nobreza do Prometeu. Odeio saber que ele sofre num monte cáucaso e que sofre, por antecipação, porque ele sabe do futuro.

Ele tem consciência!

Ele tem o saber. Ele é um merda pior que o Fool on the Hill Fucking (PIECE) of Shit.

Que gente idiota que não vê nada.

Senta aí e ouve John Lennon, por favor.


::: ATO I:

ELA - Tá eu sei que sou eu mesma quem deve ouvir o John Lennon e aprender a sentir essa flor sendo depenada - despenada - despedaçada, no meu fígado. Orgãos, intestinos.

Vou escrever sobre a dependência do álcool, da gasolina.

ELE - Eu não quero ouvir isso.

ELA - Então não ouve e vai embora.

(...)

Droga, dor. Turbilhão de emoções. Merda. Droga. Passa, Passa, Passa.

ELE - Pra onde?

ELA - Não interrompe por favor.

ELE - ???

ELA - Interrompa, por favor.

ELE - ???

Quê???

ELA - Tá, chega.

ELE - O que é isso? Tá com vontade de chorar?

ELA - Isso! (...) Picas! Não vou chorar.


::: ATO II:

ELA - Droga, entende tua psique, porra.

ELE - Bah, mas tu é muito grossa.

ELA - Rigorosa.

ELE - Grossa.

ELA - Que é uma barbaritude.

ELE - Realmente tu parece um bárbaro.

ELA - barba. bárbaro. barbarismo. barbaritude.

ELE - Tu age como um Homem.

ELA - Ajo. Agito. Convenção.

ELE - QUE MERDA MARIANA

ELA - Cala a boca sombra, não quero, não quero, não quero, não... não posso, não quero não devo, não não não.

ELE - Porque tu te rendeu?

ELA - ... eu fui rendida, renderizada.

ELE - Dá pra parar um pouco...?

ELA - Eu nunca te ouvi, nunca te dei atenção (acho que vou chorar)

ELE - Estes são os caminhos que tu escolhe.

ELA - Colhe.

ELE - Planta.

ELA - Corte.

ELE - Espanta.

(neste momento eles se abraçam)

ELA - Pára de duelar comigo? Eu acho que vou chorar.

ELE - Tu me desculpa?

ELA - Pelo quê? Ainda sinto que vou chorar.

ELE - Tu parece um bebê, tu parece comigo.

ELA - (sem palavras)


::: ATO III

ELE - TU TEM QUE ENTENDER TUA PSIQUÉ

ELA - Eu tenho que entender é à Tu.

ELE - Bah uns usos indevidos de crase...

ELA - Tu escrevia crase com "Z", filha da puta!

ELE - Que criação tu teves, heim?

ELA - Desbocado.

(...)

ELA - Ei. Tu falava que eu parecia um menino.

ELE - Pois bem, ainda parece. Mas te nasceram barbas, e agora tu usa essa barbarinha, "Barbaritude".

ELA - PORRA, SEM CONFLITO NÃO DÁ

ELE - Tu teve um insight, fofinha?

ELA - Não. Eu vivo um insight.

ELE - Pára... Pára... Que o quê! Tu vive numa ilusão de sonho. Numa sombra.

ELA - Eu sou uma sombra. A tua sombra. Sou, ainda, o teu ser. Não nos separamos. Quero me casar contigo mas não te conheço.

ELE - Tu me conhece.

ELA - Não conheço.

ELE - Tu me conhece.

ELA - Não conheço.

(FIM)

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