segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

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corri, corri, corri.

cintilantante e decadente

parei, dois passos a frente. atravessei


corri, corri, corri. corri tanto que ninguém mais me viu


cheguei lá.


Depois do tanto que corri decidi parar


parar de correr



me libertar




- qual a utilidade da sombra de uma árvore?


Não devo parar para me refrescar.


parei ao sol para observar aquela sombra.



olhei com nitidez e sem

sem vergonha ou com



uma criança sai de trás da árvore
outra também, dos galhos dela.


e fico a olhar.

uma delas tem um livro na mão
a outra um estilingue

um pássaro voa;
a criança do estilingue pega uma caneta do seu bolso
olha para o pássaro

a outra puxa uma flauta doce da bolsa
mais um caderninho
solta-o ao lado

a primeira senta e, com a caneta e o bloco da segunda, escreve


a segunda, com a flauta toca.



já me misturei com as imagens, já fui sombra, árvore, e agora sou pássaro.


Aquela criança escreve para mim.


eu vôo


uma criança toca, a outra escreve.


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